Depoimentos

A estreia

    Em 1987, a ouvinte Terezinha, de Sobradinho (DF), através de uma carta lembrou com certa beleza da estreia do programa, mesmo Mara tendo entrado no ar rouca, conforme destaca Perna (1988, p. 17):
Há seis anos atrás, lembro-me bem, começava o programa Viva Maria. Lembra Mara? Você distribuiu rosas. E nada melhor do que rosas para simbolizar o seu sucesso. Foi no Núcleo Bandeirante, eu não pude estar presente, mas de longe senti toda a vibração de um programa que chega para ficar.
Mudança de vida  

    Em março de 1987, durante entrevista concedida, a Deográcia Pinto, na época estreante na profissão de repórter, Maria Almeida contou que antes do programa sentia vergonha do seu nome. 
[Depois do Viva Maria] mudou tudo, porque antes eu era uma mulher pacata, caseira. E a partir daí eu aprendi a me libertar, entendi melhor o que é ser mulher. Aprendi com a Mara a gostar do meu nome, que é Maria, que antes eu detestava, alias, eu nem sou chamada de Maria, eu tinha um apelido, as pessoas me chamam de Leda, e não de Maria. Mas agora eu sinto orgulho de me chamar Maria e gosto quando as pessoas me chamam de Maria (Maria Almeida, 1987).
    Na segunda metade da década de 80, o Viva Maria já havia conquistado horário nobre e passa a ser levado ao ar das 09 horas ao meio dia, e meses depois perde uma hora e passa a ser transmitido das dez ao meio dia e aos poucos conquista a confiança das Marias, que por trás de pseudônimos contavam seus dramas. 
“Querida Mara, tenho 26 anos e até hoje jamais vesti uma blusa decotada. Tenho vergonha do tamanho dos meus seios e, principalmente, das estrias que recortam a minha pele, e cortam meu coração. Isso tem cura?” (MORENINHA TRISTE DA CEILÂNDIA apud CEMINA, 1998, p. 14). 

    Outras ouvinte, moradora do estado de Goiás que também prefere não revelar seu nome por carta também conta sua história, como destaca Perna (1988, p. 26):
 Eu tenho que falar porque eu já não agüento mais. Sabe, sou cazada há deis anos i tem 6 anos que eu não consigo manter relação sequisual porque eu não tenho prazer. Mais assim mesmo eu tenho 3 filhos. Sabi Mara eu não sei u porque, mais eu tomei raiva de mim mesma por ter o sequice. Meu marido fica com raiva de mim quando vai mim procura. Ele diz que é porque eu tenho outro mais não e verdade. Ele já chegou a mim mautratar. Gostaria di saber si essiste remédio para voutar o sequiçu porque sou jovem. Eu tenho 26 anos.
 Fórum de Mulheres do Distrito Federal

   As articulações do Viva Maria resultou em importantes conquistas na organização das mulheres, Almira Rodrigues, feminista e ativista do Fórum de Mulheres do Distrito Federal, fala da importância do programa na organização das mulheres e na criação do Fórum:
O Fórum de Mulheres do Distrito Federal, ele nasce mesmo no auditório do Viva Maria e foi um espaço que nós tivemos que propiciou força e deu espaço de voz para nossa organização e mobilização em Brasília. O fórum se estrutura em 86, e nós tivemos aquelas primeiras campanhas pela criação da Delegacia de Mulheres, pela criação do Conselho dos Direitos das Mulheres no Distrito Federal, e pela constituinte de 88. Essas lutas foram acolhidas pelo programa Viva Maria, que levava sempre as feministas e essas pautas feministas paras as Marias do Distrito Federal (Almira Rodrigues, 2011).
Enquanto em Brasília as mulheres estavam constantemente no auditório da Rádio Nacional, as ouvintes de outras partes do país se apropriam do espaço do Viva Maria , seja para contar seus dramas ou simplesmente para agradecer a radialista Mara Régia pelo seu trabalho. Marcelo Abreu (2005), em matéria no Correio Brasiliense destacou a carta de Gilda Luiz Batista, de Virgem da Lapa (MG):

Querida Mara, meu nome é Gilda. Moro na roça. Você é minha companheira de todas as manhãs. Quero parabenizar você por esse trabalho tão maravilhoso. Quero também te agradecer muito porque você me fez descobrir que eu tinha um caroço no seio. No começo, fiquei desesperada. Mas meu marido me deu força e fez tudo para que eu pudesse ver o que era. Fui para São Paulo, fiz cirurgia, retirei o caroço e, graças a Deus, era benigno. Nem sei como te agradecer. Mara, muito obrigada por tudo.

CEMINA – Comunicação, Educação, Informação em Gênero. Fazendo Gênero no Rádio, Rio de Janeiro, 1998.

PERNA, Mara Régia. Viva Maria: uma rádio mulher a todo volume. In: RÉGIA, Mara et all. Como trabalhar com mulheres. Coleção Fazer. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1988.

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