Mara Régia em seu ambiente preferido: os estúdio da rádio |
Antes de chegar ao rádio, aos 25 anos, ao lado do marido deixou o Rio de Janeiro e foi morar na Inglaterra. Em Londres estudou história da arte, vendeu quadros, trabalhou na Embaixada Cultural do Brasil e na biblioteca do Brasil na capital inglesa. E foi em Londres onde aconteceu a sua iniciação definitiva no feminismo, em 1976 ela se uniu a centenas de mulheres no Hyde Park para protestar contra o parlamento inglês que discutia a revogação da lei de descriminalização do aborto.
De volta
ao Brasil, em 1977, a convite do governo brasileiro, Mara e o
esposo fizeram breve passagem por São Paulo e logo depois foi para Brasília. Na capital do Brasil ela cursou publicidade e jornalismo na Universidade de Brasília (UNB). Mara e o
esposo encontram o país mergulhado na ditadura militar e, estudando na UNB, ela encontra sua vocação.
“[Em 1978] tudo era em nome da segurança nacional,
e eu estava na UNB e um amigo [Antônio Augusto Silva] falou que estavam fazendo
uma Rádio para ocupar a Amazônia, porque o pessoal lá não falava mais nem
português e disse para eu ir lá fazer um teste. Respondi: 'menino você está
louco, eu nem conheço a Amazônia e nem conheço o Rádio, nunca fui'”, conta Mara
Régia, que mesmo assim foi fazer o teste e três meses depois já era uma
"radioapaixonada".
Mara Régia di Perna, sobrenome herdado do marido italiano (de quem hoje é separada), é mãe de dois filhos: Filippo di Perna e Mirella di Perna. Já no nome, carrega a referência da planta símbolo da região amazônica: a vitória régia. Empunhando um microfone pelas ruas de Brasília ela também se tornaria um símbolo.
Mara Régia di Perna, sobrenome herdado do marido italiano (de quem hoje é separada), é mãe de dois filhos: Filippo di Perna e Mirella di Perna. Já no nome, carrega a referência da planta símbolo da região amazônica: a vitória régia. Empunhando um microfone pelas ruas de Brasília ela também se tornaria um símbolo.
Ouça depoimento da jornalista Mara Régia di Perna em que ela conta como foi sua estreia no Rádio e a criação do programa Viva Maria.
Estreia no Rádio
Estreia no Rádio
Assim, como produtora, Mara começa a integrar a equipe
da Rádio Nacional do Brasil, que falava para o exterior. Meses depois de entrar
para equipe da emissora, no final de 1979, seu potencial para falar nos
microfones foi identificado por Heleninha Bortone, que a convidou para integrar
a equipe de radioatores que dariam vida à primeira radionovela da Rádio
Nacional da Amazônia - História do Dito Gaioleiro, veiculada pela primeira vez
em janeiro de 1980.
Acompanhe o primeiro capitulo da radionovela História do Dito Gaioleiro, com a participação de Mara Régia.
Interpretando a personagem Belinha, que anos mais tarde ela leva para o seu programa Natureza Viva, começou a ser conhecida na Amazônia. Em 14 de setembro de 1981, rouca, Mara coloca em definitivo a sua voz no ar e passa a apresentar o programa Viva Maria, pioneiro nas discussões de questões de gênero no rádio brasileiro.
Interpretando a personagem Belinha, que anos mais tarde ela leva para o seu programa Natureza Viva, começou a ser conhecida na Amazônia. Em 14 de setembro de 1981, rouca, Mara coloca em definitivo a sua voz no ar e passa a apresentar o programa Viva Maria, pioneiro nas discussões de questões de gênero no rádio brasileiro.
Viva Maria
Dos estúdios da Nacional de Brasília, apresentadora
ajuda a garantir vários direitos das mulheres.
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Na Constituinte de 1988, à frente do Viva Maria,
ela encabeça os abaixo-assinados pela garantia à licença-maternidade de 120
dias, licença-paternidade e creche de zero a seis anos. Essas foram bandeiras
que, pelo programa, chegaram até o Congresso Nacional para sensibilizar os
deputados constituintes e a sociedade em geral.
Esse ativismo tem sua origem marcada pela violência
doméstica que a menina Mara via sua mãe sofrer, quando o pai chegava em casa
alcoolizado. Das brigas, Dona Iolanda da Costa saía muito machucada, o que fez nascer em
Mara o desejo de que outras mulheres não passasse pelo que viu sua mãe passar.
Em 1990, além de despertar a ira dos maridos que
passaram a ameaçar a jornalista, ela também foi identificada pelo governo de
Fernando Collor de Mello como uma liderança negativa e, por um telegrama, ela é
sumariamente demitida e banida da Empresa Brasileira de Radiodifusão
(Radiobrás) até 2009, quando foi anistiada para valer, embora tenha voltado à
emissora em 1993, para integrar a equipe do programa Natureza Viva, criado no
inicio da década e que estava passando por uma reformulação. Mara inicialmente
produz e apresentaria o quadro Natureza Mulher, no ar até hoje.
Censura no Governo Collor
Fora das emissoras que integravam a Radiobrás, Mara
participa da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, a Eco 92, no
Rio de Janeiro. Graças a essa experiência, criou para a Rádio Cultura FM de
Brasília o Programa Eco Feminino, que esteve no ar, sob o seu comando, até
1994. Nesse mesmo período, também produziu para a ONG Cemina uma série de
programas especiais com o apoio do Unifem – “ Mulheres em Comunicação com o
Meio Ambiente”.
Natureza Viva
A partir de 1993 Mara Régia retoma suas atividades
na Rádio Nacional da Amazônia no Natureza Viva, um projeto do Fundo Mundial
para a Natureza (WWF), em parceria com o Grupo de Trabalho Amazônico (GTA) e a
Radiobrás. Pelo programa, de 1993 a dezembro de 2000, ela teve um contato
diário com as mulheres da floresta.
O Natureza Viva já passou por várias fases, mas
sempre manteve o formato de revista radiofônica. Em 1993 passou a ser ancorado
pela dupla Ida Pietricovsky e Carlos Moreira. Nesse mesmo período, com o apoio
do Unifem, hoje ONU Mulheres, a jornalista Mara Régia di Perna, era responsável
pelo Natureza Mulher, um quadro dentro do Natureza Viva voltado para a questão
de gênero e meio ambiente.
Concluída essa primeira fase, em 1995 o comando do
programa passa a ser dividido por Mara e a radialista Rejane Limaverde. Daí
para frente, à experiência se amplia com várias viagens de campo
às comunidades. Oficinas de comunicação também começam a ser
sistematizadas para ouso do rádio no combate às queimadas e incêndios
florestais na Amazônia.
O programa também é Natureza Mulher, à medida em
que tem um espaço inteiramente dedicado ao impacto do meio ambiente no corpo
feminino e a abordagem das questões de gênero voltadas para a saúde e direitos
reprodutivos. Os principais desdobramentos desse trabalho foram apresentados
por Mara na Conferência do Clima em Berlim, na Universidade da Paz (IUPIP),
Rovereto, Itália; e na Conferência de Beijing na China, em 1995.
De 2000 a 2003, o Natureza Viva passa a ser levado
ao ar pelo Sistema Difusora de Rádio, graças a uma feliz parceria com o Governo
da Florestania do Acre, através das seguintes emissoras: Rádio Difusora
Acreana; Rádio Educadora 06 de agosto – Xapuri; Rádio Difusora de Feijó; Rádio
Difusora de Tarauacá; Rádio Difusora de Sena Madureira e Rádio FM de Brasiléia.
Em 2003, o programa volta para Rádio Nacional da Amazônia.
Devido à aproximação de Mara com as mulheres
amazônicas, ela teve a oportunidade de realizar o ritual de abertura do I
Encontro Internacional das Parteiras da Floresta, Amapá, julho de 1998; e
também o I Encontro das Mulheres da Floresta em dezembro do mesmo ano.
Mulheres nas Ondas do Rádio
Em 1997, já sozinha
no comando do programa Natureza Viva, Mara foi selecionada no Concurso de
Bolsistas da Fundação MacArthur. A partir daí, passa a sistematizar as práticas
e tradições dos povos da floresta no campo da sexualidade, por meio do projeto:
Mulher nas Ondas do Rádio: Corpo e Alma Rompem o Silêncio. Passou três anos
viajando pelos estados da Região Norte, desenvolvendo oficinas de saúde -
laboratórios de rádio para capacitação das chamadas lideranças transformadoras.
Em busca de uma melhor compreensão sobre o
funcionamento da geografia do feminino, Mara se utilizava do abacate e da
goiaba para a representação do útero e dos ovários. Seu trabalho de pesquisa
junto as parteiras que participavam das oficinas resultou na radionovela “A
vida pede passagem, uma história de luz”, feita por Mara e a ginecologista
obstetra Lívia Martins, que acompanhou a jornalista em muitas oficinas.
Durante o desenvolvimento do projeto Mulher nas Ondas do Rádio, Mara
também encaminhou 150 cartas-denúncia à CPI da Mortalidade Materna, instalada
na Câmara dos Deputados no ano 2000. O dossiê consta nos anais da instituição.
De 1999 a outubro de 2001 Mara integrou o Conselho
Político da Rede de Mulheres no Rádio. Uma iniciativa que nasceu da necessidade
de fortalecer as experiências de gênero em rádio no Brasil. Convidada a
participar da produção de uma série de programas radiofônicos para a Rede
Mulher de Educação: mudando o Mundo com as Mulheres da Terra, conquistou o
primeiro lugar no concurso A TODA VOZ, promovido pela AMARC – Associação de
Rádios da América Latina e Caribe.
Já de 2004 a 2006, Mara Régia prestou serviço para
Rádio Ministério da Educação e Cultura (MEC) do Rio de Janeiro, onde apresentou
o programa Mulherio, uma revista radiofônica da Secretaria Especial de
Políticas para as Mulheres (SPM), levado ao ar aos sábados. Ao longo de 53
minutos, eram apresentadas as muitas faces da mulher brasileira em toda sua
diversidade.
Em defesa aos direitos dos animais, por meio de uma
parceria da Radiobras com o WWF Brasil, Mara Régia produziu e apresentou o
programa Trilha Animal, levado ao ar de 2007 a 2012. Foram 265 edições em que
as questões ligadas a ciência e a vida dos animais foram colocadas em
evidência.
Atuação na TV
Além de sua passagem
por emissoras de rádio, o currículo de Mara Régia apresenta passagem por muitas
emissoras de TV. De 1989 a 1990 foi Produtora e apresentadora na TVE do
Rio de Janeiro, onde criou o programa Cidadania, cujo projeto
inicial se constituía numa série de 26 programas de televisão voltada para a
divulgação dos direitos do cidadão brasileiro conquistados na Constituição de
1988; produtora Executiva do Jornal Noite / Dia, na Rede Manchete de Televisão,
de 1991 a 1992; editora Senior do Jornal Bom Dia Brasil, de 1992 a 1994,
na TV Globo; entre outros trabalhos.
Prêmios
Ao longo do tempo, Mara Régia é reconhecida e premiada pelo seu
trabalho. Prêmio Towards 2000, setembro de 1995; Prêmio Embrapa de Reportagem ,
novembro de 1995; Troféu Gaia, 1996; Indicação ao Nobel da Paz pelo Projeto Mil
Mulheres, em 2005; primeiro lugar Prêmio Chico Mendes , categoria Arte e
Cultura, Ministério do Meio Ambiente, em 2006; Prêmio Ouvir Ciência,
Ministério da Ciência e Tecnologia, em 2007; entre tantos outros prêmios e
honrarias.
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